O Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) é uma unidade de pesquisa em ciências biológicas pertencente à Universidade do Porto. Um dos projetos do CIBIO baseia-se na monitorização do lobo-ibérico (Canis lupus signatus) e teve inicio em 2006. Os resultados do projeto obtidos no inicio do mês de fevereiro deste ano são preocupantes, indicando que no Alto Minho existem apenas 6 alcateias com cerca de 30 lobos no total.
A bióloga Mónia Nakamura, que participa ativamente no projeto, explicou ao Semanário V que existem duas subpopulações de lobo-ibérico:
- Subpopulação a norte do rio Douro - Constituída por 54 alcateias, entre as quais se encontram as 6 alcateias do Alto-Minho, compostas por entre 4 a 8 lobos cada;
- Subpopulção a sul do rio Douro - Constituída por apenas 9 alcateias que se distribuem entre o rio Douro e Viseu.
Em conjunto com outros membros do projeto, a bióloga continua a acompanhar as 6 alcateias que reúnem a população de lobos que habita na zona região do Alto Minho, sendo que cada uma habita perto de uma das seguintes aldeias da região: Soajo, Vez, Peneda, Boulhosa, Cruz Vermelha e Serra de Arga. Mónia Nakamura afirma que as alcateias mais estáveis são as de Soajo, Vez e Peneda. e que as alcateias de Boulhosa e Cruz Vermelha são aquelas que mais correm perigo de desaparecer. A alcateia de Boulhosa é aquela que apresenta menos taxa de reprodução desde o inicio do projeto, em 2006.
Cada alcateia é constituída por um casal reprodutor de lobos e pelas suas crias, sendo que os animais se introduzem numa nova alcateia em pares e, após cerca de três anos, abandonam a alcateia. A alcateia pode ser sucedida pelos descendentes quando estes se tornam adultos.
Em cativeiro, o lobo-ibérico pode chegar até aos 17 anos de idade mas, na natureza, a esperança média de vida é menor, variando entre 6 a 8 anos de idade. "O último cadastro de lobo a nível nacional remota ao ano de 2003.", afirma o Semanário V, pelo que "os lobos registados já desapareceram.". No entanto, os descendentes destes animais continuam a manter as 6 alcateias "vivas". "Um dos objetivos deste projeto consiste em perceber se a perturbação humana afeta mesmo o sucesso reprodutor dos lobos.", afirma Mónia Nakamura.
No caso da alcateia de Cruz Vermelha, no final do mês de janeiro deste ano, houve uma nova baixa, sendo um dos seus lobos encontrado morto preso a uma armadilha e com um tiro na nuca. A bióloga afirma que esta alcateia havia desaparecido em 1997 mas voltara em 2010 e "tem sido detetada todos os anos, apesar de de estar sob ameaça de voltar a desaparecer." (Semanário V). Mónia Nakamura explica, ainda, que este processo de recolonização é comum e completa: "sabemos que os indivíduos que estão agora na alcateia da Boulhosa e da Cruz Vermelha vieram das de Vez e do Soajo.".
Lobo-ibérico |
Mónia Nakamura explicou, também, que há vários metodologias de monitorização, "sendo que a mais básica passa por tentar detetar rastos e fezes nos percursos habituais das alcateias." (Semanário V). Além disso, muitas vezes os dejetos são aproveitados para a extração do ADN do animal, através do qual se pode conhecer a sua descendência e a qual alcateia este pertence e confirmar a sua espécie (Canis lupus signatus). Foi desta maneira que se contabilizaram os cerca de 30 únicos lobos que, atualmente, habitam o Alto Minho. Outra das metodologias utilizadas para acompanhar os lobos é a "escuta", isto é, o uso de equipamentos que fazem o registo de uivos dos animais, sobretudo das crias, durante o verão: época em que nascem as crias de lobo. Este mecanismo permite detetar as alcateias e confirmar a reprodução desse ano. Em alcateias de difícil acompanhamento resta a monitorização da reprodução dos lobos com as câmaras de armadilhagem fotográfica que, em outras palavras, é a colocação de câmaras fotográficas disfarçadas na natureza. Outra metodologia é, obviamente, a observação. Contudo, o lobo é um animal que raramente se deixa ser observado, pelo que a tarefa é complicada. "Quando um lobo é observado, é porque ele assim quis", afirmou a bióloga. "Os lobos fogem de nós. Acho que são eles a ter mais medo de nós do que o oposto. [...] Se um lobo estiver preso num laço e alguém se aproximar, eles podem sentir-se ameaçados, mas em condições normais, diria que não há qualquer tipo de ameaça ao ser humano", conclui. Os colares GPS também são uma opção e, apesar de constituírem o método que dá informações mais corretas, são difíceis de de implementar, sendo necessário a captura e controlo do animal, além de que a bateria acabará em algum momento.
Lobo capturado no terreno pela equipa do CIBIO para marcação com colar GPS Foto: Mónia Nakamura |
É bom lembrar que nem todas as alcateias nacionais estão a ser monitorizadas e que, também nessas, ocorrem baixas significativas.
O lobo-ibérico é muito ameaçado na região do Alto Minho, principalmente por se alimentar dos animais domésticos, como vacas e cavalos, dos habitantes da região, visto que constituem cerca de 90% do seu alimento. "O problema principal para a alimentação do lobo na região do Alto Minho é a falta de presas selvagens.", conclui o Semanário V, presas essas que deveriam ser javalis e corsos. Desta forma, os habitantes da região vêem o lobo como um inimigo, procurando abatê-lo. Porém, "desde 1988 que a lei que protege o lobo abrange pagamento de indemnizações pelas mortes dos animais domésticos", esclarece Mónia Nakamura.
"Em 1930, o lobo era encontrado em quase todo o território do país, ficando agora confinado às zonas de influência do Parque Nacional Peneda-Gêres, ao Parque Natural de Montesinho, ao Parque Natural do Alvão e ainda a Sul do Douro." (Semanário V). Segundo o último censo dado em 2002-2003, existiam cerca de 300 lobos-ibéricos em Portugal, divididos em 63 alcateias. Hoje em dia, no Alto Minho já só restam 30 animais.
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